Ela valorizava muito mais a si própria do que aos outros, não sabia o significado da palavra ciúme, não sabia a diferença entre bem e mal e tinha repulsão a comer peixe. Conforme o tempo foi passando, ela aprendeu que ciúme é medo de perder quem se gosta e talvez ela não soubesse disso antes porque nunca havia de fato gostado de alguém. Aprendeu que sem os outros ela mesma não era ninguém, então ocasionalmente (quase sempre!) ela deveria colocar os outros na frente de si mesma. O que ela sabia sobre si era muito pouco: era o que ela sentia, o que falavam sobre ela e o que o espelho a mostrava. Por quantas vezes ela magoou, decepcionou e chateou... e por tão poucas vezes percebeu que a haviam magoado, decepcionado, chateado! Ela olhava tão pouco para fora de si que raras as vezes via o que se passava diante de seus próprios olhos. Ela percebeu que nunca é tarde, que nosso tempo a gente faz e que o tempo dela deveria ser quando. Lembrava de seus sonhos de criança, agora parecem tão bobos. Lembrava das perguntas que a incomodavam, agora as respostas parecem tão óbvias! Desejos às estrelas e nos nós de fitinhas não viram realidade: que ironia! Ela não sabe nada sobre Deus, sobre a humanidade nem sobre si própria: que desespero! Aquela que pensava saber de tudo vê que hoje ela não sabe de absolutamente nada. Sabe apenas que deve fazer o bem e ter uma pontinha de ciúme de quem ela ama, e sabe que comer peixe não é lá tão ruim assim.
R.L.A.