"Jovem para sempre. Bate aquela vontade de ficar eternamente jovem. Aproveitar as conquistas, as aventuras, os amores, conquistar tudo de novo, só para sentir aquela sensação inexplicável de ser jovem.
Jovem, curtir a vida incansavelmente, insaciavelmente, ser, agir como um adolescente, buscando a cada dia uma nova história pra contar.
Ah! Aquele tempo de colégio, aulas exaustivas (produtivas ou não), amigos inseparáveis. Porém, o tempo nos dá a leve impressão que cada um vai para um lado, cada um buscará escrever sua própria historia.
Vem então aquela viagem perfeita, que antecede esse ciclo de responsabilidades e deveres. Nossos últimos momentos juntos, se auto conhecendo, se divertindo, pois ser jovem é uma virtude, ser eternamente jovem é uma conquista.
Finalmente chegou o momento de comemorar os anos de luta, o momento de erguer aquele bastão que representa a liberdade. Liberdade para construir um futuro melhor, para ir à busca de seus maiores objetivos, objetivos. Ahh! Quantos objetivos.
Deparo-me com meus amigos, todos ao meu lado, e em cada rosto vejo apenas saudade e esperança. Saudade daquelas aulas exaustivas, daquelas baladas de sábado, do primeiro beijo, do intervalo da escola, da formatura! Daquela viagem inesquecível.
Aí me vem a esperança! A esperança de ver meus amigos todos os dias ao meu lado e comemorar a cada dia uma nova conquista".
- Paulo Nunes (monitor da minha viagem à Bariloche realizada em julho/2009)
Let's travel?
terça-feira, 28 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Clarice Alves Lispector
"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre".
- C.L., inspirado unica e exclusivamente em R.L.A.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre".
- C.L., inspirado unica e exclusivamente em R.L.A.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Time is love
Let's see. I am not saying it was your fault. I am not blaming you. But I am so tired... I am tired of waiting for you. I am tired of being your toy, I am tired of you and of your confused stupid mind. It is getting quite late. Sorry, there is someone else here with me. Sorry, I cannot hear you, I am kind of busy. Sorry, sorry, now is too late. I gotta go my own way right now. Maybe it would be the best thing to do, maybe it will be better for me and for you. My sweetheart, I have been in your hands for a eternity. Come on, one time or another I would get tired. And this time has arrived. I won't tell you to try to make me feel better, to try to take me back, to try to make me change my ideas. Believe me, now is too late. It is true. Now you are my own toy-boy, now you lost my heart, now you have just my body and nothing else. I am really sorry for you. Poor you. You have lost yourself inside your own ridiculous tiny world. I hope you be ok, because now I am much more than ok: I am happy. However, you don't know the meaning of this word: you didn't allow yourself to be happy. Now? Now is... too late. Of course I will miss you. But even if it pains, it will pain only in the beginning. Time is love.
R.L.A., for my secret stupid minded boy-toy.
R.L.A., for my secret stupid minded boy-toy.
domingo, 19 de setembro de 2010
de repente, 18.
Pensei em escrever esse texto em 3a pessoa... mas seria generalizado demais, então vamos no Eu mesmo. 18 anos é A idade. A idade em que pensava saber tudo, e descobri que não sabia nada. A idade em que me senti tão leve que quase podia voar, quase não sentia o chão sob meus pés. A idade em que me sentia a dona do mundo, mais que isso: a dona de mim. Sentia que podia tudo, que era capaz de tudo. Pude descobrir a veracidade daqueles que aos 18 anos é a melhor fase da vida. Quando tinha 12 anos, queria ter 18. Quando tinha 17, queria ter 18. Quando 18, queria ter 18 - PARA SEMPRE. A própria Pollyana, a própria Alice. Uma liberdade, uma leveza. Um mundo maravilhoso. Uma alma preenchida, uma cabeça ocupada. Ocupada com toda a positividade. Comecei a ver beleza onde nunca pensei existir. Comecei a ouvir e compreender as pessoas, sentir o mundo... tão incompreensível. Comecei a me interessar por mim mesma, pela vida, pelo tempo, pela política. Pelas músicas, palavras e cores. Comecei a enxergar as entrelinhas, sentir as complexidades mundanas, a curiosidade entrando pelos meus poros, correndo em minhas veias. Todos os assuntos passaram a me interessar. Dos dialetos ao espiritismo. Da homossexualidade ao aborto. Do amor ao ódio. Amor? Logo eu, que nunca pensei me interessar por uma palavra tão clichê. Logo eu, logo eu. Logo eu, que seria capaz de abraçar o mundo com toda a força interior que sentia aos 18 anos. Eternos 18 anos.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
A nossa conexão
Como é bom ter você. Mesmo nossos signos sendo opostos, mesmo nossas ideias sendo conflitantes, mesmo nós sendo tão diferentes. Às vezes parece que trocamos nossos papeis e eu me sinto na obrigação de cuidar de você. Tão pequeno, tão amável, tão frágil ser. Acho que foi Deus quem te colocou no meu caminho, e eu no seu. Para nos completarmos de algum jeito. Você tendo de sobra tudo aquilo que me falta. E eu te emprestando o que você não possui. Você me ensinando, você aprendendo, eu precisando de você: sempre e para sempre. Sabendo que posso contar com você, sabendo que você faria toda e qualquer coisa por mim. É algo muito além do que podemos ver, ou falar. Basta sentir: e eu sinto. Sinto nossa conexão. E nossa conexão é bem lá dentro do coração.
"Não tenha medo, pare de chorar. Me dê a mão, venha cá. Vou proteger-te de todo o mal, não há razão pra chorar. No seu olhar eu posso ver a força pra lutar e pra vencer. O amor nos une para sempre. SE AS DIFERENÇAS NÃO NOS SEPARAM, NINGUÉM VAI NOS SEPARAR".
R.L.A., para meu secreto frágil ser.
"Não tenha medo, pare de chorar. Me dê a mão, venha cá. Vou proteger-te de todo o mal, não há razão pra chorar. No seu olhar eu posso ver a força pra lutar e pra vencer. O amor nos une para sempre. SE AS DIFERENÇAS NÃO NOS SEPARAM, NINGUÉM VAI NOS SEPARAR".
R.L.A., para meu secreto frágil ser.
Nós de marinheiro
O tempo está tique-taqueando devagar... e eu continuo aqui, agora, sem saber o que fazer, o que querer... o que querer fazer. Dentro de mim tudo continua como sempre esteve: claramente obscuro, obscuramente claro. Ah, eu quero MAIS. Mais liberdade, muito mais que liberdade. Mais amor, mais respeito, mais loucura, mais viver. Mais jogar tudo para o alto, mais decisões de última hora, mais surpresa. Mais beleza, mais humanidade, mais música, mais ouvir, mais ler. Mais beijos, muito mais abraços. Eu quero mais agora. Também quero menos. Menos preocupação, menos planejamento, menos rotina. Menos sofrimento, menos teoria, menos passado e muito menos futuro. Quero menos paranoia, menos desespero, menos ciúme, menos falar. Quero menos pensar, mais agir. Menos você, menos eu, mais nós. Mais nós de marinheiro que nos prendem a nós mesmos. Aqui, e agora.
R.L.A. - (durante uma palestra chata de IELP-II, para evitar o sono)
R.L.A. - (durante uma palestra chata de IELP-II, para evitar o sono)
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Paciência
"Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados, muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia. Por muito pouco a madame que parece uma lady solta palavrões e berros que lembram as antigas trabalhadoras do cais. E o bom comportado executivo? O cavalheiro se transforma numa besta selvagem no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar. Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma mala sem alça. Aquela velha amiga uma alça sem mala, o emprego uma tortura, a escola uma chatice. O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela. Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela Internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado. Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais. Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus. A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta. Pergunte para alguém, que você saiba que é ansioso demais aonde ele quer chegar? Qual é a finalidade de sua vida? Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta. E você? Aonde você quer chegar? Está correndo tanto para quê? Por quem? Seu coração vai aguentar? Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar? A empresa que você trabalha vai acabar? As pessoas que você AMA vão parar? Será que você conseguiu ler até aqui? Respire... Acalme-se... O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro, com ou sem a sua paciência..."
- Arnaldo Jabor
- Arnaldo Jabor
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A morte do amor.
"Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.
Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de penico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como O Amor Inteligente ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo A Paixão Tem Olhos Azuis, difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4ª série, ou entre fãs que ainda suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (bah, isso não é amor; amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram – teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.
Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.
PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(oferece-se generosa recompensa)".
- A.D.
Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de penico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como O Amor Inteligente ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo A Paixão Tem Olhos Azuis, difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4ª série, ou entre fãs que ainda suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (bah, isso não é amor; amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram – teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.
Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.
PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(oferece-se generosa recompensa)".
- A.D.
É claro que o amor acaba.
"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba".
- Paulo Mendes Campos.
- Paulo Mendes Campos.
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