"Tem horas que a saudade aperta e eu quase ligo para você. Eu sinto meu corpo inteiro se encolher na ponta da cama e abraço as minhas pernas com tanta força que minha testa apoia nos joelhos. Eu fecho meus olhos e tento desesperadamente contar até dez. Mas me perco no meio e percebo que preciso soltar o ar que prendi em meus pulmões.
O ar vai embora exatamente como você, depois de eu tentar impedir que fosse. Mas é nessa hora que eu tento puxá-lo de volta e junto vem a saudade que sufoca tudo o que eu tenho por dentro. Me preenche o peito mas mesmo assim, me deixa sem ar, tonta e completamente embriagada com o cheiro do seu perfume.
E eu te juro, eu quase pego o telefone.
Mas abro os olhos e tento refazer mil vezes as minhas notas mentais, reescrever os porquês e embaralhar os números do seu celular lá no fundo do meu eu. Mas ainda sinto essa falta que deixa meus pés gelados com saudade dos seus, que me esquentavam nas noites frias.
E é nessas horas que imploro para não tirarem os olhos de mim, imploro para me fazerem rir e me obrigo a rir de qualquer coisa. Mesmo que nada tenha tanta graça quanto as suas rimas. Tento me focar em algo que não seja relacionado a falta que você faz do outro lado da cama. Vejo filmes, leio livros, tomo aquele chocolate quente que eu sempre deixava queimar e me distraio.
Mas dura pouco e novamente só penso em largar a porta de casa aberta mesmo, esquecer as chaves pelo meio do caminho, sair de camisola, despenteada e descalça, só para ir atrás do meu coração, que você levou junto contigo quando partiu. Nessas horas que eu preciso inventar desculpas que não me deixem atender, para caso você ligue. Dizer que eu saí, que eu dormi, que eu estou em um banho demorado enquanto me apronto para superar você.
Mas o telefone não toca, e é quando eu tenho uma folga no meio daquela saudade toda, e quase agradeço você. É quando eu me lembro de que eu não devo ligar, não devo correr, não devo chorar ou sequer me lembrar de você. É a hora que eu listo novamente todos os momentos estragados, os erros idiotas, e coloco meu amor dentro do potinho no canto do meu quarto. É a folga que eu tenho, quando eu desligo o celular e não procuro mais pensar no que você está fazendo, ou no motivo de você não ter vindo ainda.
São os momentos que eu percebo que consigo me amar mais do que você já me amou, tentando te esquecer, te deixar para lá, te mandar para bem longe. São nesses momentos em que eu solto as pernas, me estico inteira, aceito a dor que você um dia me trouxe, mas não choro e nem esperneio. Me sinto sortuda por poder me deitar no meio da cama cheia de travesseiros somente meus. Finalmente consigo respirar fundo e noto que não quero mais perder meu tempo quase ligando para você. Nem com você de qualquer jeito que for."
- Deborah, bloggueira da Isabela Freitas.