“Havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir.”
“Na minha pressa eu crescia sem saber para onde”.
“As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito”.
“Era cedo demais para eu ver como nasce a vida. Vida nascendo era tão mais sangrento do que morrer. Morrer é ininterrupto. Mas ver matéria inerte lentamente tentar se erguer como um grande morto-vivo... Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago. Estavam pedindo demais de minha coragem só porque eu era corajosa, pediam minha força só porque eu era forte. ‘Mas e eu?’, gritei dez anos depois por motivos de amor perdido, ‘quem virá jamais a minha fraqueza!’ Eu o olhava surpreendida, e para sempre não soube o que vi, o que eu vira poderia cegar os curiosos.”
Clarice Lispector.
Nenhum comentário:
Postar um comentário