Let's travel?

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Entre sem bater.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Devaneio.

Ele não era atraente. Simples, quieto, obscuro. Misterioso. Ela o notou. Talvez só ela. Em meio a tantos, ele era imperceptível. Mas não para ela. Sempre trajado como um qualquer, barba por fazer, tênis rasgados. Ele guardava um segredo que nunca ninguém conseguira antes desvendar. Pudera, ninguém nunca havia antes se importado com ele, que dirá com o segredo dele. Mas ela era diferente. Ela não conseguia dormir pensando naquele sorriso de Monalisa, naqueles olhos oblíquos e, diria Machado, dissimulados. Atrás daquelas lentes havia um brilho inexplicável, inexplorado. Em seu mundo tão próprio, tão interiorizado, ele parecia não enxergar nada ao redor dele. Não parecia existir nada ao redor dele. E ela sonhava e sonhava. Sonhava com o segundo em que ele sorriria para ela. Com o dia em que a abraçaria e, então, a seguraria pelos ombros, olharia fundo em seus olhos e, ajeitando uma mecha do cabelo fino e claro dela, ele diria "nunca senti isso por ningúem". E seria verdade, seria sincero, ah! se seria. Ele limparia a doce lágrima que se projetaria no canto do olho esquerdo dela, ela que nunca havia antes se entregue aos braços de nenhum outro, respiraria fundo e com as pálpebras fechadas beijaria suavemente as mãos dele. Mãos, essas, que jamais abandonariam as mãos dela. Com um susto e um suspiro, o sinal estridente significaria o final da aula. Ela despertaria e veria que tudo havia sido apenas um devaneio, um lindo devaneio. E ali estava ele, a sete carteiras de distância, cinco metros que significavam o abismo entre ele e ela. Ele, que não sabia sequer o nome dela. E nunca viria a saber. O devaneio, o mais doce dos devaneios.


R.L.A.

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