"Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar... Onde a Dona Maria mora, porque ela me adora, e eu sempre posso entrar...
Era bem o tempo de você chegar no T, olhar no espelho seu cabelo, falar com o Seu Zé... e me ver caindo em cima de você, como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer...
E aí, só nós dois no chão frio, de conchinha bem no meio-fio... No asfalto riscado de giz... imagina que cena feliz!
Quando os paramédicos chegassem, e os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon, a gente ia para o necrotério ficar brincando de sério deitadinhos no bem-bom... Cada um feito um picolé, com a mesma etiqueta no pé...
Na autópsia daria pra ver... como eu... só morri... por você...
Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar. Em vez disso eu dei meia-volta, e comi uma torta inteira de amora no jantar..."
- Clarice Falcão - "Oitavo andar"
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