Eram pontualmente 6h30 da manhã quando, do modo mais inesperado possível, aquele carro amarelo apareceu bem ali. Bem ali na minha frente, uns quize metros separavam meu carro daquele, quinze metros separavam meu coração do dele. Um arrepio intenso correu pelo meu corpo, uma palpitação disparou na minha garganta, o mundo despencou por alguns segundos. Eu sei que já não existe amor há muito tempo, eu sei que tudo ocorreu do modo como deveria ser, mas havia mais de um ano que eu nao via aquele carro amarelo. Um carro amarelo que já me levou a tantos lugares, um carro amarelo que eu fui junto comprar, já dirigi tantas vezes, um carro que por um bom tempo teve a letra R colada no vidro traseiro. Um carro que já não faz parte da minha vida nem da minha realidade, bem como a pessoa que estava ali, escondida por aqueles vidros totalmente pretos. Por alguns segundos tive um mundo de sensações estranhas, a garganta secou, o coração disparou, as palavras sumiram, os pensamentos também, não sei explicar o turbilhão que se passou dentro de mim. Então, o carro amarelo virou para um lado, e o meu virou para o outro, me despertando para a realidade, me avisando que tudo que senti era normal, afinal, foram anos vivendo aquilo que acabou. Minha mente e meu corpo já não estavam adaptados a reviver em poucos segundos um passado tão longo e tão intenso. Respirei, me olhei no espelho e me lembrei de que agora eu já amo outro alguém. Apesar de aquele carro amarelo e quem estava nele estar pra sempre em algum lugar da minha memória e do meu coração, agora quem me preenche já é outra pessoa. E é muito, muito bom amar de novo, tendo a certeza de que o turbilhão que senti (apesar de ter me deixado péssima) me deu certeza de que fiz o certo e continuo no caminho certo. Me despeço do carro amarelo com um enjoo no estômago, um aperto no coração, mas com minha razão me confirmando que não há dúvidas de que está tudo bem.
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