Ali estava eu. Era quarta-feira, 20h, estava sozinha mas tão, tão completa. Sentada em um chão de concreto cinza, em uma pista de corrida no topo de um shopping, iluminação amarelada e muito aconchegante, e, em volta, a vista do alto da minha cidade preferida no mundo. Prédios longe, acesos, famílias devem estar jantando, crianças fazendo lição de casa, cachorros latindo, adolescentes trancados no quarto, divorciadas chorando, homens tomando cerveja assistindo à televisão, tanta coisa deve estar acontecendo em cada uma dessas janelas acesas que daqui parecem só uns quadradinhos brilhantes. E eu aqui. Observando a tudo em volta, achando tudo tão calmo, meu coração tranquilo depois de tanto tempo. Parece que aquela sensação que tanto almejei finalmente chegou até mim. Agora é dar valor… é uma sensação de peito parado… quem sofre de ansiedade entende o que quero dizer. A respiração não está ofegante e não consigo sentir meu coração batendo tentando pular pra fora. Aquele que tem me transbordado está a alguns metros, fora do meu campo de visão, e me sinto completa aqui sentada. Com uma sensação muito maravilhosa de estar tudo encaixado… como sonhei com isso. Obrigada, vida. Olhando pra trás acho que essa sensação só é tão valorosa por conta de tudo que eu passei. Que fase boa de autoconhecimento e autocura. Queria que todos passassem pelas intensidades que eu passei e tenho passado, de tanta coisa muito ruim e tanta coisa muito boa. É o que faz a vida ser incrível do jeito que é, nunca saber o que te espera na próxima esquina, cada segundo sendo único e nunca mais sendo repetido. Só acumulando dentro da mente as lembranças e no corpo as sensações… formando tijolinho por tijolinho quem a gente é. E é isso. Finalmente, finalmente a paz invadiu o meu coração. Até quando? Não sei. Mas vou saber aproveitar bem de perto cada momento que essa sensação boa me inundar, como hoje, agora, aqui, sozinha mas não solitária, sentada no concreto frio com o peito quentinho.
“Só se aprende a aproveitar a calmaria sobrevivendo à tempestade”
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