Você já ouviu dizer que nossos traumas servem pra nos fortalecer? Pois eu tenho uma notícia um pouco triste. Que traz uma certa desesperança e um gostinho amargo no fundo da garganta. Traumas não te fortalecem, traumas te traumatizam. Os nossos traumas despedaçaram nossos corações em pequenas partes, quase indivisíveis. E aí os momentos felizes vão colando essas partes... mas é como se fosse um copo de vidro quebrado, que você tenta colar - não fica perfeito nunca mais. Fica com vazamentos. Fica com cacos afiados prestes a cortar seu dedo. Um coração quebrado por um trauma nunca mais volta a ser inteiro de novo. O trauma te destrói. Desregula seu sistema nervoso. Seu sistema límbico, imunológico, respiratório, cardiovascular, e aqueles outros todos que a gente aprende na 5ª série. Não sei você, mas a soma dos meus traumas me fez desaprender a dormir. A respirar sem ar. A viver sentindo fisicamente a dor do meu coração pulando dentro do peito. O trauma me fez desaprender a confiar. Desaprendi também a amar. A me amar. O trauma me trouxe amargura. Engraçado, ainda dizem que o trauma fortalece... mas, em mim, o trauma roubou as forças de viver. Cheguei ao fundo do poço muitas e muitas vezes. E o bom disso tudo é que, a cada vez que eu caio no fundo do poço, fica mais fácil de achar o caminho de volta. A escalada pelas paredes do poço fica menos escorregadia. O poço cada vez parece menos gélido, menos abafado, menos assustador. Os musgos de lá já começam até a parecer acolhedores. Os monstros do poço parecem até sorrir pra mim, dizendo "você de novo?". E aí, mesmo cheia de traumas, mesmo com o coração despedaçado, aprendi a sair do poço. A subir, subir, subir, até ver a luz. Mas não pense que essa subida é fácil. Não é. Mesmo sendo a milésima vez, mesmo já sabendo o caminho de cor, mesmo conseguindo subir sem mapa e sem auxílio, a subida continua sendo excessivamente difícil. E aí, a cada vez que você sai de lá, você tem mais receio de cair, então se arrisca menos. Confia menos. Se entrega menos. Ama menos. Precisa valer muito a pena pra você ir em frente e enfrentar o risco da queda. E vou te contar um segredo: quase nunca vale.
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