Let's travel?

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Entre sem bater.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Morfina e Arsênico

E eu vou esquecer. Não sei como, não sei quando, mas vou. Esquecer de lembrar de tudo isso. Esquecer de lembrar de que um dia achei que era feliz naquela farsa ridícula em que eu vivia. Ainda restam sombras, ainda resta mágoa, ainda restam fios. Faz tempo, faz tanto tempo. E ainda resta. Não resta nenhum tipo de sentimento bom, não resta amor, desejo, lembranças boas ou sei lá mais o que. Não. Só restam sombras frias e sombrias. Sombras que insistem em me assombrar. Eu sei que vai passar. Confio e tenho esperanças de um dia não lembrar mais pelo menos o número do telefone. Um dia não lembrar do timbre da sua voz irritante, de cada palavra mentirosa que você já me disse, de cada canção vazia, de cada beijo sem sentimento. Novas experiências, novos dias, novos sentimentos virão e me ajudarão a apagar tudo. Está demorando, claro que está, quando algo é intenso sempre demora a vir e mais ainda a partir. Acho que valeu a pena. A dor sempre traz crescimento e humildade, e talvez eu estivesse precisando disso. Às vezes isso me parece tão pequeno, às vezes isso toma conta de mim. Faz parte da vida. Sempre que estamos muito alegres, achamos que nossa ‘’felicidade” é a maior do mundo – e quando estamos fortemente magoados, achamos que o nosso sofrimento é o maior do mundo. Mas não é. Todos compartilhamos da mesma intensidade de morfina e de arsênico dentro de nossa corrente sanguínea. Reagimos a isso de formas diferentes, é claro. Aí entra signo, personalidade, circunstâncias, orgulho etc. Sim, todos temos momentos bons e momentos ruins. E eu hei de esquecer tudo isso, eu hei de lembrar muito bem de esquecer e esquecer totalmente de me lembrar. Um dia.

R.L.A.

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