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Entre sem bater.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

OPTEI POR SER VILÃ.

Como uma novela. Era assim que ela enxergava a vida. Todas aquelas pessoas, que mais se assemelhavam a formigas ou piolhos, eram as personagens da novela. Suas personagens, da sua novela. E ela? Ela era a escritora. A diretora, a protagonista, a vilã, a mocinha. A mocinha que passava o filme todo a se apaixonar pelo mocinho, perdendo-o a cada capítulo. A vilã que brincava para passar o tempo... brincava de amar, brincava de matar, brincava de enganar. A diretora que escolhia quem ia interpretar qual papel, montava o elenco, dispunha as peças como em um jogo de xadrez; escolhia em qual casa ficaria a rainha, quem mataria o rei e quem seriam os peões. Ela escrevia sua própria novela. Ora atuava também, ora apenas assistia. Era ela quem mandava em como os acontecimentos se desenrolariam, em qual capítulo aconteceria o quê. Escolhia como terminaria cada capítulo. Assassinava personagens, e no próximo capítulo os ressuscitava. Bagunçava tudo. Aquilo que os telespectadores sempre esperam era jogado fora. Sua novela era muito mais interessante. Ela era ela. Ela se alimentava de suas entranhas, se olhava no espelho e sentia vontade de devorar a si própria. Beijar a própria nuca, morder a própria bochecha, sentia vontade de entrar dentro dela mesma. E voltava para a sua novela. Prendia a boazinha, enriquecia a vilã, atirava no mocinho, beijava a empregada má. Depois do intervalo enriquecia a boazinha, atirava na vilã, beijava o mocinho e prendia a empregada má. Tudo à sua escolha, tudo a seu gosto. O tanto de sal, pimenta ou açúcar que iam em cada cena era ela quem determinava. Ninguém escapava dos seus desejos. Para ela todos tinham talento para a atuação. Era só dar o texto e as ações, nem ensaios eram necessários. Parecia até vida real. Às vezes ela se pegava pensando se tudo aquilo era mesmo uma novela, talvez pudesse ser real. Real? O que será que ela entendia por real? Então ela logo caía em si e lembrava-se de que aquilo não passava de novela, da sua novela. Que um dia chegaria ao esperado último capítulo, passado na sexta-feira e repetido no sábado. Como acabaria? Ora, isso é com ela. Ela quem sabe como tudo há de acabar. Ela pode optar por acabar como a mulher traída, a mocinha retraída, a velha viúva, ou a vilã que acaba rica e amada pelo galã da novela. Isso é opção dela. E posso garantir que a sua novela é a que tem mais ibope. Ela pode optar por ser vilã. O nome da novela...? Que tal... Optei por ser vilã?

R.L.A., eterna vilã.

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