Let's travel?

Let's travel?
Entre sem bater.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Ficaram em silêncio. A mulher pensava.

- Não sei se acredito em certas coisas. E talvez por não acreditar de coração elas não se transformam em realidade. Talvez minha dúvida impessa que o sonho vá adiante.

Felipe lembrou-se do sonho. Quando sentiu dúvida, a catedral tremulara. A desconfiança quase desfizera a frágil imagem. O mundo do além vive através do nosso coração!
[...]

A mulher disse com gentileza:

- Existe algo mágico no universo. Se você estiver preparado para realizar seu sonho, o sonho virá até você."

- Walcyr Carrasco - "A Senhora das Velas" p. 137
"Era preciso se precaver. Mas quem desconfia de todo mundo desaprende a amar."

- Walcyr Carrasco - "A Senhora das Velas" p. 83
"Sabia também que a alma humana sempre se dividia entre a luz e a sombra. Mas que algumas pessoas escolhiam o caminho da escuridão, onde tudo era permitido, e onde a dor alheia, e mesmo a vida, muitas vezes era o alimento de seus espíritos tortos."

- Walcyr Carrasco - "A Senhora das Velas" p. 80

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um sentimento.

Digamos que possa ser chamado de ilusão, esse meu sentimento. O nome dado a ele não importa. Ele está me fazendo um bem danado. Talvez seja um tipo de toxina que me causa vertigem. Ou um tipo de morfina, que está me fazendo sorrir enquanto as feridas terminam de cicatrizar. Uma forte aspirina que está me fazendo esquecer que o machucado dói, ou estava suposto a doer. Que seja. Esse sentimento estranho e diferente me faz sentir viva. Me faz sentir paixão. E gana. E ambição. E vontade de seguir em frente. E vontade de me jogar. De me entregar. Pode ser que o efeito da morfina passe daqui a algumas horas. Pode ser que o efeito da aspirina expire daqui a alguns dias. Ou meses. Mas quando esse efeito passar, a ferida estará cicatrizada. A ferida será somente uma lembrança. Lembrança de algo que me só me fortaleceu. E sempre que eu olhar a marca da cicatriz em mim, vou sorrir ao lembrar de como ela foi causada. Vou sorrir ao saber que aquele buraco enorme e sangrento hoje é só uma pequena e quase invisível cicatriz. Então não interessa que o que estou sentindo seja ilusório, que seja irreal, até mesmo que seja tolice. Não, não importa. E também não importa que daqui a pouco essa sensação chegue ao fim: já já tudo volta ao estado normal: sem vertigem, mas também sem dor. Sim senhor, nada de dor.

R.L.A. – para minha secreta toxina, morfina, aspirina.
"Estou bem tranquilo. De uns dias pra cá estou me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto." (C.F.A.)
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada." (C.L.)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Homem inteligente falando sobre as mulheres.

"O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está a fêmea da espécie humana.

Tenho apenas um exemplar em casa, ue mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém. Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha 'Salvem as Mulheres!'

Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam:

Habitat: Mulher não pode ser mantida em cativeiro. Se for engaiolada, fugirá ou morrerá por dentro. Não há corrente que as prenda e as que se submetem à jaula perdem o seu DNA. Você jamais terá a posse de uma mulher, o que vai prendê-la a você é uma linha frágil que precisa ser reforçada diariamente.

Alimentação correta: Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem, sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro. Beijos matinais e um 'eu te amo’ no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório, servir um prato especial.

Flores: Também fazem parte de seu cardápio – mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.

Respeite a natureza: Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação? Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso.

Não tolha a sua vaidade: É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar muitos sapatos, ficar horas escolhendo roupas no shopping. Entenda tudo isso e apoie.

Cérebro feminino não é um mito: Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram!). Então, aguente mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de decoração. Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. E não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres.

Não faça sombra sobre ela: Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar umbronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.

Aceite: mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar. O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.

E meu amigo, se você acha que mulher é caro demais, vire gay.

Só tem mulher quem pode!"

- Arnaldo Jabor.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Me atingiu como um raio de sol,
queimando minha escura noite.
Você é o único que eu quero,
e eu estou viciada na sua luz.

Eu jurei que nunca iria me apaixonar novamente,
mas eu nem me sinto como se estivesse a cair.
A gravidade não pode esquecer
de me puxar de volta para o chão.

É como se eu estivesse despertando.
Todas as regras que eu tinha você está quebrando.
É grande o risco que estou correndo,
eu nunca vou te calar.

Em todo lugar que eu olho agora agora,
estou rodeada pela sua graça.
Querido, eu posso ver a sua Aureóla.
Você sabe que é a minha graça salvadora.

Você é tudo que eu preciso e mais,
isso está escrito em todo o teu rosto.
Querido, eu posso sentir a sua Aureóla,
e eu quero que ela não desapareça."

(Halo - Beyoncé - tradução)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

COMME IL FAUT.

Tudo parecia tão certo. Tão bem-encaixado. Às vezes esse sentimento de paz lhe vinha à tona, ela nem sabia bem o porquê. Era como se o mundo girasse, e colocasse tudo em seu devido lugar. Ela se sentia tão viva. Sentia tudo ocorrendo como deveria ser. Não havia falhas, não existiam enganos. Como esse sentimento lhe fazia bem! Agora ela estava bem consigo. Agora, ela se sentia feliz. Não tinha dúvidas ao afirmar isso. Não importava que felicidade fosse uma ilusão. Ela se sentia bem, o mundo era colorido, e ela estava apaixonada. Apaixonada por tudo! Por todos! Ela queria que essa sensação durasse para todo o sempre. Era um tipo de vertigem. Uma vertigem causada pela própria vida. Havia tantas coisas mais importantes que ela nem chegara a reparar. E agora ela via. Via como viver é fascinante. Via como é incrível colecionar amigos. Colecionar carinhos. Sonhos lentamente se concretizando. Tempo lentamente curando. Como a vida é interessante. Pensando bem, dá até vontade de se viver.

R.L.A.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"O tempo passa. A vida acontece. A distância separa. As crianças crescem. Os empregos vão e vêm. O amor fica mais frouxo. As pessoas não fazem o que deveriam fazer. O coração se rompe. Os pais morrem. Os colegas esquecem os favores. As carreiras terminam. Mas... os verdadeiros amigos estão lá."

Bunda Dura.

"Tenho horror a mulher perfeitinha. Sabe aquele tipo que faz escova toda manhã, tá sempre na moda e é tão sorridente que parece garota-propaganda de processo de clareamento dentário? E, só pra piorar, tem a bunda dura! Pois então, mulheres assim são um porre.. Pior: são brochantes. Sou louco? Então tá, mas posso provar a minha tese. Quer ver?

a) Escova toda manhã: A fulana acorda as seis da matina pra deixar o cabelo parecido com o da Patrícia Poeta. Perde momentos imprescindíveis de rolamento na cama, encoxamento do namorado, pegação, pra encaixar-se no padrão 'Alisabel', que é legal... Burra.

b) Na moda: Estilo pessoal, pra ela, é o que aparece nos anúncios da Elle do mês. Você vê-la de shortinho, camiseta surrada e cabelo preso? JAMAIS! O que indica uma coisa: ela não vai querer ficar desarrumada nem enquanto estiver transando.

c) Sorriso incessante: Ela mora na vila dos Smurfs? Tá fazendo treinamento pra Hebe? Sou antipático com orgulho, só sorrio para quem provoca meu sorriso.. Não gostou? Problema seu. Isso se chama autenticidade, meu caro. Coisa que, pra perfeitinha, não existe.. Aliás, ela nem sabe o que a palavra significa... Coitada.

d) Bunda dura: As muito gostosas são muito chatas. Pra manter aquele corpão, comem alface e toma isotônico, portanto não vai acompanhá-lo nos pasteizinhos nem na porção de bolinho de arroz do sabadão. Bebida dá barriga e ela tem H-O-R-R-O-R a qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba onde começa a pornografia: nada de tomar um bom vinho com você. Cerveja? Esquece!

Portanto:

É melhor vc ter uma mulher engraçada do que linda, aquela que sempre te acompanha nas festas, adora uma cerveja, gosta de futebol, prefere andar de chinelo e vestidinho, ou então calça jeans desbotada e camiseta básica , faz academia quando dá, come carne, é simpática, não liga pra grana, só quer uma vida tranqüila e saudável, é desencanada e adora dar risada; Do que ter uma mulher perfeitinha, que não curte nada, se veste feito um manequim de vitrine, nunca toma porre e só sabe contar até quinze, que é até onde chega a seqüência de bíceps e tríceps. Legal mesmo é mulher de verdade. E daí se ela tem celulite? O senso de humor compensa. Pode ter uns quilinhos a mais, mas é uma ótima companheira. Pode até ser meio mal educada quando você larga a cueca no meio da sala, mas e daí? Porque celulite, gordurinhas e desorganização têm solução (afinal todo avião tem pneu...). Mas ainda não criaram um remédio pra FUTILIDADE!"

(E não se esqueça... Mulher bonita demais, e melancia grande, ninguém come sozinho!)

- Arnaldo Jabor

Um Grande Homem.

"Nós homens nos caracterizamos por ser o sexo forte, embora muitas vezes caiamos por debilidade.Um dia, minha irmã chorava em sua casa... Com muita saudade, observei que meu pai chegou perto dela e perguntou o motivo de sua tristeza. Escutei-os conversando por horas, mas houve uma frase tão especial que meu pai disse naquela tarde, que até o dia de hoje ainda me recordo a cada manhã e que me enche de força. Meu pai acariciou o rosto dela e disse: 'Minha filha, apaixone-se por Um Grande Homem e nunca mais voltará a chorar'. Perguntei-me tantas vezes, qual era a fórmula exata para chegar a ser esse grande homem e não deixar-me vencer pelas coisas pequenas... Com o passar dos anos, descobri que se tão somente todos nós homens lutássemos por ser grandes de espírito, grandes de alma e grandes de coração, O mundo seria completamente diferente! Aprendi que um Grande Homem... Não é aquele que compra tudo o que deseja, porque muitos de nós compramos com presentes a afeição e o respeito daqueles que nos cercam. Meu pai lhe dizia: Não se apaixone por um homem que só fale de si mesmo, de seus problemas, sem preocupar-se com você... Enamore-se de um homem que se interesse por você, que conheça suas forças, suas ilusões, suas tristezas e que a ajude a superá-las. Não creia nas palavras de um homem quando seus atos dizem o oposto. Afaste de sua vida um homem que não constrói com você um mundo melhor. . Ele jamais sairá do seu lado, pois você é a sua fonte de energia... Foge de um homem enfermo espiritual e emocionalmente, é como um câncer matará tudo o que há em você (emocional, mental, física, social e economicamente). Não dê atenção a um homem que não seja capaz de expressar seus sentimentos, que não queira lhe dar amor. Não se agarre a um homem que não seja capaz de reconhecer sua beleza interior e exterior e suas qualidades morais.Não deixe entrar em sua vida um homem a quem tenha que adivinhar o que quer, porque não é capaz de se expressar abertamente. Não se enamore de um homem que ao conhecê-lo, sua vida tenha se transformado em um problema a resolver e não em algo para desfrutar. Não se apaixone por um homem que demonstre frieza, insensibilidade, falta de atenção com você, corra léguas dele. Não creia em um homem que tenha carências afetivas de infância e que trata de preenchê-las com a infidelidade, culpando-a, quando o problema não está em você, e sim nele, porque não sabe o que quer da vida, nem quais são suas prioridades. Por que querer um homem que a abandonará se você não for como ele pretendia, ou se já não é mais útil? Por que querer um homem que a trocará por um cabelo ou uma cor de pele diferente, ou por uns olhos claros, ou por um corpo mais esbelto? Por que querer um homem que não saiba admirar a beleza que há em você, a verdadeira beleza… a do coração? Quantas vezes me deixei levar pela superficialidade das coisas, deixando de lado aqueles que realmente me ofereciam sua sinceridade e integridade e dando mais importância a quem não valorizava meu esforço? Custou-me muito compreender que GRANDE HOMEM não é aquele que chega no topo, nem o que tem mais dinheiro, casa, automóvel, nem quem vive rodeado de mulheres, nem muito menos o mais bonito. Um grande homem é aquele ser humano transparente, que não se refugia atrás de cortinas de fumaça, é o que abre seu CORAÇÃO sem rejeitar a realidade, é quem admira uma mulher por seus alicerces morais e grandeza interior. Um grande homem é o que cai e tem suficiente força para levantar-se e seguir lutando... Hoje minha irmã está casada e feliz, e esse Grande Homem com quem se casou, não era nem o mais popular, nem o mais solicitado pelas mulheres, nem o mais rico ou o mais bonito. Esse Grande Homem é simplesmente aquele que nunca a fez chorar… É QUEM NO LUGAR DE LÁGRIMAS LHE ROUBOU SORRISOS… Sorrisos por tudo que viveram e conquistaram juntos, pelos triunfos alcançados, por suas lindas recordações e por aquelas tristes lembranças que souberam superar, por cada alegria que repartem e pelos 3 filhos que preenchem suas vidas. Esse Grande Homem ama tanto a minha irmã que daria o que fosse por ela sem pedir nada em troca... Esse Grande Homem a quer pelo que ela é, por seu coração e pelo que são quando estão juntos. Aprendamos a ser um desses Grandes Homens, para vivenciar os anos junto de uma Grande Mulher e NADA NEM NINGUÉM NOS PODERÁ VENCER! Envio esta mensagem aos meus AMIGOS "HOMENS", para que lhes toque o coração e tratem de fazer crescer esse GRANDE homem que vive dentro deles. E às minhas amigas 'mulheres' para que SAIBAM ESCOLHER ESSE GRANDE HOMEM QUE DEUS TEM PARA ELAS."

- Arnaldo Jabor.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Felicidade?

Perguntaram-me, certa vez, o que era a felicidade... e eu não soube responder. Resolvi, então, pensar sobre o assunto. O contrário da tristeza, talvez? Mas então o que seria a alegria? Não... refletindo e vivendo, comecei a desvendar tamanho mistério. Felicidade... algo do plano das ideias. Ideia, ideal. Algo ideal, idealizado. Algo que os humanos buscam, aliás passam seu tempo integral buscando... sem nunca alcançar. Por quê? Eis a questão. Quando qualquer item do plano ideal cai no plano real, esse item não é mais ideal. Então quando a “felicidade” cai no plano da realidade humana, deixa de ser felicidade! Uma vez li uma sábia frase de um pensador: “quando a alma fala, então já não é a alma que está falando”. O raciocínio aqui é mais ou menos por aí. Quando se é feliz, então já não se é feliz. (Não que eu saiba explicar o que é ‘’ser feliz”.) Talvez, ser feliz seja conseguir aquilo que se almeja. Mas como, se quando conseguimos já estamos almejando outro objetivo? É um tipo de ciclo vicioso. O ponto é: deve-se buscar o bem-estar, a paz de espírito, o coração tranqüilo... quanto à felicidade? Ah, deixe a felicidade lá no plano das ideias, deixe que os tolos passem o resto de seus minutos tentando agarrá-la, como uma criança que tenta pegar na mão uma estrela do céu.

R.L.A. (24/12/2010)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

UMA IDEIA.

De súbito, me ocorreu uma ideia. A ideia de que eu não estava sozinha. Havia alguém como eu. Alguém que, a essa altura, já estava em uma atmosfera muito mais ampla. Mas esse alguém existia, ou existiu. E agora não me deixava sozinha. Ela estava ali comigo. Cada palavra dela que eu lia entrava em mim, fincava-se em minha alma, como uma facada certeira em um pedaço de carne suculenta. Ela era exatamente como eu. Talvez ela fosse eu. A minha vida anterior, talvez... Só o que sei é que ela era eu. Ela sentia os meus sentimentos. Pensava os meus pensamentos. Escrevia como eu. Gostava do que eu gostava. Amava como eu amava. Não obstante se sentia sozinha como eu me sinto. Ninguém a entendia. Como ninguém me entende. A não ser ela. E isso me basta. A minha alma gêmea existiu. Cada vírgula dela me faz sentir melhor. Faz-me sentir amada e compreendida. Mesmo que por palavras. E isso é completamente suficiente. No mundo terreno sinto como se ninguém pudesse entender, compreender, captar nada sobre mim. Meus sentimentos são estranhos. Eu sou esquisita. Falo coisas sem sentido. Penso como se algum tipo de loucura me dominasse. A verdade é que não vejo sentido algum. Não vejo graça no que a maioria vê. E aquilo que enxergo, absolutamente ninguém é capaz de enxergar. O que sinto? Para os demais nem sequer existe. Talvez nem eu mesma saiba o que enxergo ou sinto. Mas enxergo e sinto. A minha lógica é exclusivamente minha. Ainda não encontrei um humano que possa conversar comigo através da alma. Algum humano que sinta o que eu sinto sem que eu precise explicar o que é esse sentimento. Dizem que o que escrevemos diz muito sobre o que somos, o que pensamos, sobre nosso estado de alma. Mas são poucos os que escrevem. Seriam, então, poucos os que são, os que pensam, os que possuem algum estado de alma? Vai saber. De onde vejo, são todos muito iguais. Conseguem se divertir com as mesmas coisas. Conseguem admirar os mesmos ídolos. Gostar dos mesmos lugares. E eu não consigo, tento mas não consigo, ser como eles são. Me sinto bem comigo mesma. Não me importo em ficar sozinha. Ler. Escrever. Pensar sobre mim e sobre os outros. Estou errada? Bem, alguns se preocupam, querem que eu me envolva mais, que eu me expresse mais, pensam que eu não estou contente quando estou em algum lugar mais remoto, mais recolhida. Mas são os momentos em que me sinto melhor. Quando estou comigo. Quando estou lendo o que escreveram aqueles que me compreendem. Aqueles que, como eu, não viam o menor sentido em tudo isso. Como eu, não viam por quê, não viam para quê. Escrevo sem pensar. Escrevo com algum tipo de fluxo de consciência. Não quero que leiam. Não preciso que admirem. Quero escrever o que me vem à mente, seja lá o que for. Coloco o copo na porta para ouvir melhor o que dizem. Ouço, mas não escuto. Para mim é como se fosse alguma língua estrangeira sobre a qual não possuo o menor conhecimento. Humanos são criaturas fascinantes. Não necessariamente no sentido positivo da palavra. É como se fossem dois lados. Do lado de cá eu os vejo. Entretanto, do lado de lá não me veem. E eu não me importo com isso. Eu os vejo, e eu me vejo. Suficiente. A verdade é que a transpiração me escorre. As unhas me doem de tão roídas. Minha mente fadiga. Meus cabelos sempre desalinhados. A miopia me pesa os olhos. Minha respiração ofega. Minha alma pede paz. Meu corpo pede cuidados. Algumas lembranças me rondam, me incomodam. E todos continuam sem me compreender, e isso os incomoda. Quanto a mim, estou contente com minha companhia, com minhas leituras, estou contente com as palavras que nascem na minha mente e morrem em minhas mãos, enterradas em uma escrita um tanto quanto distinta. Sinto medo. Medo de já tão cedo enxergar um mundo incompreensível, um planeta com habitantes tão engraçados, semelhantes a formigas organizadas em um formigueiro. Olho através de minhas pupilas míopes e tudo o que me vêm à cabeça são perguntas. Perguntas sem resposta. Talvez seja hora de eu voltar para o meu planeta de origem.

R.L.A., para ela, aquela que me faz sentir como pudesse a respirar. CL. A única.

DE MAIS NINGUÉM.

Era impressionante como ela adorava olhar para o próprio umbigo. E encarar os próprios olhos, e afagar os próprios cabelos. Gostava de ocupar-se de si mesma. Alimentava-se das próprias entranhas. Quando supostamente amava alguém, estava se amando em alguém. Pegava as pessoas emprestadas. Fazia o bem para que isso a fosse retribuído. Acariciava para ser acariciada. Enfrentava o espelho. Era capaz de passar o resto da vida na frente de um espelho. Analisava-se por horas. Sentia prazer nisso. Vagarosamente se cuidava. Arrumava os cabelos fio por fio. Tratava de unha por unha. Cada singelo pêlo daquele corpo era dela. Dela e somente dela. Só ela merecia aquele corpo, aquela alma. Gostava de passar o tempo arrumando a mente. Separava os pensamentos em gavetas. Tudo muito organizado. Fácil de encontrar quando quisesse ou precisasse. Tudo arrumado por temas, tudo separado em ordem alfabética. Possuía naquela mente tudo quanto é tipo de pensamento. Quanto pensamento cabia em um espaço fisicamente tão pequeno! Criava pensamentos novos todos os dias. Às vezes modificava pensamentos antigos. Mas sempre guardava o original, é claro. De vez em quando tentava colocar em palavras alguns artigos interessantes que encontrava em uma de suas gavetinhas. Claro que nunca dava certo. Quando posto em palavras, o pensamento tornava-se irreconhecível. Ela chegava a se envergonhar por trabalho tão mal-feito, esse, de transformar os pensamentos em palavras. Ela não gostava de expor seus pensamentos em nenhuma conversa. Um humano consegue ser tão sábio dentro da própria ignorância... Por isso ela só ouvia. Ouvia e armazenava tudo. Possuía um enorme armário inteiro de pensamentos alheios, cheinho de gavetas. Algumas vezes roubava um pensamento alheio e o fazia seu. Não queria ser compreendida. Não importava se não a ouvissem. Ela queria se ouvir. Ela tinha ânsia em compreender a si própria. Isso lhe bastava. Sentia vontade de devorar a própria alma. Mastigar o próprio corpo. Célula por célula. Fazer uma longa digestão de si mesma. Gostaria de deitar no próprio colo. Ser abraçada por ela. Sentir seu próprio toque, poder segurar seu próprio rosto nas mãos e beijar-se. Ninguém merecia fazer isso com ela, a não ser ela mesma. Ela era a única que merecia tê-la nos braços, que merecia carregá-la no colo. Ela era a dona de si. Era exatamente isso o que sentia. Ela era dela. E de mais ninguém.

R.L.A.

A Repartição dos Pães

“ Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranho. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém.”


“Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe.”


- C.L.

Destino?

Foi veterinária por cerca de doze anos. Depois abandonou a profissão, virou matemática por alguns meses, depois foi psicóloga. Depois nutricionista. Foi jornalista por algumas horas e juíza por alguns minutos. Foi também policial. Tatuou um enorme dragão nas costas, colocou piercing na língua. Depois tirou tudo, furou por alguns meses a sobrancelha e o nariz. Tatuou estrelinha na nuca. Depois enjoou e apagou. Praticou natação e quis ser nadadora. Depois quis ser jogadora de basquete, foi jogadora de vôlei por algum tempo. Aí quis jogar futebol. Foi boxeadora, também. Sonhou que era escritora. Sonhou ter unhas longas. E foi loira. Teve cabelos curtíssimos, depois compridos, ah, que tal um meio-termo? Se matriculou em um curso de espanhol, depois de francês, de italiano, de alemão! Aí achou melhor atuar. E atuou, cantou, foi centro de palco, amou de mentirinha. Depois parou. Quis aprender piano. Talvez violão, porque não bateria? Pode ser que se desse melhor dançando. E dançou. Dançou tango, dança de rua, valsa, funk. Fez coreografias com a prima, mais tarde com a amiga. Foi criança, teve mil bonecas, se jogou em cima do avô. Teve um cachorro que era maior do que ela. E uma cadela menor que ela também teve uma participação especial. Já teve peixes, alguns ela acabou assassinando por querer abraçar com seus dedinhos. Por alguns meses teve tartaruga, por alguns dias teve ratinhos. Não me lembro se já teve gatos. Acho que nunca se sentiu atraída por nada daquilo que remete à palavra ‘traiçoeiro’. Já viajou quase o mundo todo. Europa, Estados Unidos, ah, a Nova Zelândia...! Hoje? Passou uma semana na Argentina e se contenta em ser lingüista. O cachorro maior que ela morreu, ela não se joga mais nos braços do avô, porque não tem mais avô. Ser escritora ficou em sonho, na vida real as unhas são roídas até o sabugo. Não é mais loira, não toca nenhum instrumento e só sabe falar inglês. Piercing é só na orelha e no umbigo, tatuagens ainda são mera pretensão. Aí ela se lembrou da palavra ‘destino’, se interrogou sobre isso e não obteve resposta. Será que tudo estava escrito ou era ela que mudava tanto? Se estava escrito, quem escreveu era bastante paciente com essa menininha tão volúvel e mutável. Ou então quem escreveu quis brincar de criar uma pessoinha bem complicadinha e incompreensível. E ela achava que suas vontades e realidades não mudavam... pra quem achava isso, até que mudou bastante.

R.L.A.

MEIA-NOITE.

Estava tudo tranquilo. A rotina estava totalmente enraizada no chão. Então, o relógio dá as doze badaladas. Era meia-noite. Era um novo ano. As reviravoltas estavam apenas começando. E a mistura de sentimentos também. Amor. Ódio. Paixão. Saudade. Paz. Solidão. Preocupação. Desespero. Raiva. Confusão. Ilusão. Cansaço. Sofrimento. Desequilíbrio. Alívio. Tudo isso passando dentro de uma cabecinha só. Um instante mudava tudo. E o próximo mudava tudo de novo. A rotina foi arrancada do solo como uma criança arranca uma flor. Nada era igual. Foi tomada de si. Entregou-se. Atirou-se sobre os minutos. Deixou que os dias a fossem levando como o vento leva as folhas. De repente, alguém veio por trás. Uma pancada na cabeça, ou um pano com dopante no nariz. Ela desmaia e é acorrentada. Uma perda de memória. Uma sala escura. Uma alma sequestrada. Todos a procuram, ninguém a encontra. Chegam a ponto de pensar em desistência. Quando todos achavam que aquilo se tratava de um caminho sem volta, que a tinham perdido para sempre, ela é libertada. Sai da sala escura, reconhece uma imagem. A sua imagem. Aquele espelho a fez parar, ofegante. Lágrimas brotavam de seus olhos assustados, lhe corriam o rosto e morriam em seus lábios trêmulos. Lágrimas contendo dor. Lágrimas contendo amor. Ela corre para ver o sol, que há tanto tempo não via. O vento vem lhe beijar a face. O mar toca seus pés. Um anjo lhe sorri. Suportou tudo com a maior das dignidades. Com a maior das superações. A fé. Fé em Deus, fé naqueles a quem amava, fé na vida, fé em si. A alma era maior do que o corpo. Era maior do que o mundo. Os pensamentos iam do chão ao céu e voltavam em fração de segundo. A cabecinha suportou toneladas e toneladas de pensamentos. Memórias. Uma briga interna, um conflito que não conseguia achar razão. Não havia meio. Não sabia como. Não sabia o quê, por quê, quando, onde. E de que importava? Agora estava livre. E bastou piscar os olhos para o relógio badalar doze vezes. Era meia-noite, era um novo ano.

R.L.A.

OPTEI POR SER VILÃ.

Como uma novela. Era assim que ela enxergava a vida. Todas aquelas pessoas, que mais se assemelhavam a formigas ou piolhos, eram as personagens da novela. Suas personagens, da sua novela. E ela? Ela era a escritora. A diretora, a protagonista, a vilã, a mocinha. A mocinha que passava o filme todo a se apaixonar pelo mocinho, perdendo-o a cada capítulo. A vilã que brincava para passar o tempo... brincava de amar, brincava de matar, brincava de enganar. A diretora que escolhia quem ia interpretar qual papel, montava o elenco, dispunha as peças como em um jogo de xadrez; escolhia em qual casa ficaria a rainha, quem mataria o rei e quem seriam os peões. Ela escrevia sua própria novela. Ora atuava também, ora apenas assistia. Era ela quem mandava em como os acontecimentos se desenrolariam, em qual capítulo aconteceria o quê. Escolhia como terminaria cada capítulo. Assassinava personagens, e no próximo capítulo os ressuscitava. Bagunçava tudo. Aquilo que os telespectadores sempre esperam era jogado fora. Sua novela era muito mais interessante. Ela era ela. Ela se alimentava de suas entranhas, se olhava no espelho e sentia vontade de devorar a si própria. Beijar a própria nuca, morder a própria bochecha, sentia vontade de entrar dentro dela mesma. E voltava para a sua novela. Prendia a boazinha, enriquecia a vilã, atirava no mocinho, beijava a empregada má. Depois do intervalo enriquecia a boazinha, atirava na vilã, beijava o mocinho e prendia a empregada má. Tudo à sua escolha, tudo a seu gosto. O tanto de sal, pimenta ou açúcar que iam em cada cena era ela quem determinava. Ninguém escapava dos seus desejos. Para ela todos tinham talento para a atuação. Era só dar o texto e as ações, nem ensaios eram necessários. Parecia até vida real. Às vezes ela se pegava pensando se tudo aquilo era mesmo uma novela, talvez pudesse ser real. Real? O que será que ela entendia por real? Então ela logo caía em si e lembrava-se de que aquilo não passava de novela, da sua novela. Que um dia chegaria ao esperado último capítulo, passado na sexta-feira e repetido no sábado. Como acabaria? Ora, isso é com ela. Ela quem sabe como tudo há de acabar. Ela pode optar por acabar como a mulher traída, a mocinha retraída, a velha viúva, ou a vilã que acaba rica e amada pelo galã da novela. Isso é opção dela. E posso garantir que a sua novela é a que tem mais ibope. Ela pode optar por ser vilã. O nome da novela...? Que tal... Optei por ser vilã?

R.L.A., eterna vilã.

Os desastres de Sofia.

“Havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir.”

“Na minha pressa eu crescia sem saber para onde”.

“As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito”.

“Era cedo demais para eu ver como nasce a vida. Vida nascendo era tão mais sangrento do que morrer. Morrer é ininterrupto. Mas ver matéria inerte lentamente tentar se erguer como um grande morto-vivo... Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago. Estavam pedindo demais de minha coragem só porque eu era corajosa, pediam minha força só porque eu era forte. ‘Mas e eu?’, gritei dez anos depois por motivos de amor perdido, ‘quem virá jamais a minha fraqueza!’ Eu o olhava surpreendida, e para sempre não soube o que vi, o que eu vira poderia cegar os curiosos.”

Clarice Lispector.

O meu tesouro.

“Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. Não, eu não era doidinha, a realidade era o meu destino, e era o que em mim doía nos outros. E, por Deus, eu não era um tesouro. Mas se eu antes já havia descoberto em mim todo o ávido veneno com que se nasce e com que se rói a vida – só naquele instante de mel e flores descobria de que modo eu curava: quem me amasse, assim eu teria curado quem sofresse de mim. Eu era a escura ignorância com suas fomes e risos, com as pequenas mortes alimentando a minha vida inevitável – que podia eu fazer? Eu já sabia que eu era inevitável. Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento. Pelo menos uma vez ele teria que amar, e sem ser a ninguém – através de alguém. E só eu estivera ali. Se bem que esta fosse a sua única vantagem: tendo apenas a mim, e obrigado a iniciar-se amando o ruim, ele começara pelo que poucos chegavam a alcançar. Seria fácil demais querer o limpo; inalcançável pelo amor era o feio, amar o impuro era a nossa mais profunda nostalgia. Através de mim, a difícil de se amar, ele recebera, com grande caridade por si mesmo, aquilo do que somos feitos. Entendia eu tudo isso? Não. E não sei o que na hora entendi. Mas assim como por um instante no professor eu vira com aterrorizado fascínio o mundo – e mesmo agora ainda não sei o que vi, só que para sempre e em um segundo eu vi – assim eu nos entendi, e nunca saberei o que entendi. Nunca saberei o que eu entendo. O que quer que eu tenha entendido no parque foi, com um choque de doçura, entendido pela minha ignorância. Ignorância que ali em pé – numa solidão sem dor, não menor que a das árvores – eu recuperava inteira, a ignorância e a sua verdade incompreensível. Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.”


- "Os desastres de Sofia" (in A Legião Estrangeira) - C.L.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ANJO SEM ASAS.

Ela adorava uma música que dizia “quando me perdi, você apareceu – me fazendo rir do que aconteceu” mas nunca havia sentido isso na pele. Até aquele dia. Naquele dia, sentiu uma vontade enorme de se sentir bonita. Vontade de que todos a olhassem. E admirassem. Lembrou-se de outra musica que dizia “eu já sabia, enquanto eu me arrumava algo me dizia: você vai encontrar alguém que vai mudar a sua vida inteira da noite pro dia”. Mudado sua vida? Não sei. Com toda certeza mudou o motivo de seus pensamentos. Se são os pensamentos que regem a vida, então esse tal alguém mudou sua vida. Literalmente da noite pro dia. Ela sempre fora vaidosa, mas especialmente naquele dia, ela estava agindo diferente. Queria que sua luz fosse emitida de qualquer modo. Queria ser notada. Por ele. Seja lá quem fosse ele. E o inverso aconteceu, foi ela quem o notou. Aquele anjo terreno. Quando encostou seu olhar nele, sentiu que ele um dia seria dela. Balançou a cabeça para afastar tal pensamento ridículo. Ele jamais repararia nela. Ela era uma criança. E ele era o seu anjo intocado e intocável. Chegam a se olhar, chegam a se aproximar, e quando ela está inspirando e enchendo seus pulmões com uma puríssima esperança permeada pelo perfume dele, ele se afasta e leva consigo a sua quase-esperança. Voltemos à noite anterior a essa. Ela tinha acabado de tropeçar em suas próprias ilusões e encontrava-se caída ao chão. Tentava se apoiar em suas lágrimas, em sua angústia, mas não encontrava ajuda para se reerguer. Tentava com todas suas restantes forças ficar em pé, mas a cada tentativa caía novamente ao chão. Então o anjo a levanta. O anjo que ela viria a conhecer na noite seguinte. Era o sangue dela que corria pelas veias do anjo. Era seu DNA que permeava cada uma das células que compunham toda a perfeição do seu anjo. O anjo que se encarregaria de cuidar dela. Para todo o sempre. O anjo que a carregou no colo quando ela estava caída. O anjo que a fez voar ao lado dele por todo um céu de pensamentos. O anjo que a levou para conhecer o mundo. O seu mundo das ideias. O anjo dos olhos claros e lábios desenhados. O anjo que era o que faltava para ela se sentir completa. E segura. Talvez o anjo estivesse ali, ao lado dela, desde sempre. Assistindo a cada passo dela. E resolveu entrar em ação quando percebeu que ela precisava dele. Quando percebeu que ela já possuía todos os requisitos necessários para se ter um anjo participando da vida A vida dela? comum, adolescente, vida de menina. E ela estava pronta. Estava pronta para se jogar nos braços do anjo, para deixar que o anjo fizesse dela o que bem entendesse. Para que o anjo a levasse para conhecer as estrelas, a levasse para conhecer o sublime. Conhecer como é a vida de um anjo. Agora ela tinha um anjo. E palavras como passado e futuro, palavras terrenas como fidelidade, distância e dor já não tinham mais importância. Tudo agora ia além. Agora ela tinha um anjo. Logo ela, que de anjo não tinha nada. “E de medo olhei tudo ao meu redor. Só assim enxerguei, e agora estou melhor”. (Ela era feliz por ter conseguido reconhecer um anjo disfarçado de gente). Obrigada, meu anjo.


Para meu secreto anjo sem asas, R.L.A. (27/12/2010)

A invenção do amor

Então é isso, o amor? Uma invenção? Alguns falam em amor eterno. Outros confundem amor com paixão. Uns acreditam apenas em amor de mãe. Vai saber. A verdade é que esse aí, o tal amor, é uma sementinha que, uma vez plantada, gera muita dor. Inevitavelmente. Mas se pararmos pra pensar, como pode, o sentimento de uma mãe para um filho, o sentimento entre irmãos e entre namorados receber o mesmo nome? Há algo errado. Não pode ser, não faz o menor sentido. Talvez alguma vez uma mulher tenha confundido o sentimento pelo marido, falado em amor entre cônjuges, e então o resto da humanidade cometeu o mesmo erro. O que existe entre família é amor. O que existe entre mãe e filho é amor. O que existe entre irmãos é amor. O que existe entre amigos pode até chegar a ser amor. Mas o que existe entre esposa e marido não é amor. O que existe entre namorados não é amor. Paixão, ternura, desejo, companheirismo. Isso sim. Respeito, fidelidade, lealdade. Mas amor? Amor é algo que não muda. Nunca. E tudo o que existe entre parceiros muda. O sentimento entre namorados que se conhecem há um mês não é o mesmo sentimento do dia do casamento deles, que por sua vez não é o mesmo sentimento depois de 10 anos de casados, que não é o mesmo sentimento depois de 50 anos de casados. Logo, nada de amor. O tempo passa. O desejo diminui. A consideração cresce. Cresce o medo de terminar sozinho na vida. Crescem as lembranças do passado. Vêm os filhos e mudam os sentimentos mais uma vez. A paixão se esconde, morrem as borboletas que um dia habitaram o estômago. Uma a uma. Muitas vezes o companheirismo cresce. Vêm os problemas. Muitos parceiros os enfrentam juntos. Lutam juntos. Tornam-se um time, jogando contra a vida. Os sentimentos sempre mudando. Um erra, o outro julga. Um age, o outro grita. E vêm as brigas. Algumas vezes todos os sentimentos se unem para formar um só: a repulsa. Talvez o ódio. Algumas separações acontecem. Não dá para prever. O fato é que não há nada de amor. Uma mãe que ama seu filho desde o dia em que ele nasce, o ama até o dia em que eles se separam para sempre. Não é isso o que ocorre com casais. Os sentimentos entre casais são sentimentos mutáveis. Quando se trata de relacionamentos, nada é eterno. A união pode até se tornar eterna, mas os sentimentos não o são. E isso é inevitável. Não existe um casal que vive em equilíbrio e paz durante todos os dias do ano, durante todos os anos da vida. Se o sentimento entre um casal fosse o amor, o casal seria “feliz” e isso seria uma verdade universal. Não é o que ocorre. Casais eternamente felizes são aqueles do ultimo capítulo da novela. E pode acreditar, se a novela tivesse mais dois capítulos, mais da metade dos casais formados já estariam brigando, se desrespeitando, se separando. Nada é perfeito em termos de relacionamento. Não adianta. Não sei ainda se acredito ou não em ‘’metade da laranja” ou “tampa da panela”. Acho que tudo vai muito de oportunidade, de como tudo se desenrola. Acho que cada um pode ter um montão de “amores” na vida. Eu mesma já achei o “amor da minha vida” umas 20 vezes. Quem sabe até o fim da vida eu acerto? Vai saber. Amor da vida nada, sem essa de amor. Não pra cima de mim.

R.L.A.