Let's travel?

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Entre sem bater.

sábado, 26 de março de 2011

Essa é a palavra.

E era exatamente a excessiva normalidade dela o que mais me fascinava. Ela não era bonita. Mas também não era feia, e por isso não chamava a atenção – passava desapercebida. Não se destacava por peso ou estatura. Ela era o famoso meio-termo. Não se podia admirá-la por sua inteligência, ou caçoar dela por sua ignorância. Ela sabia pouco sobre muito. Embora procurasse, eu não encontrava nela nada que a fizesse diferente das demais e isso me enlouquecia. Isso a tornava tão interessante. Afinal todas as outras possuíam um quê que as tornavam diferentes uma das outras, o que as acabava tornando todas iguais. Ela não. Ela não possuía nada incomum, era a única que não possuía nada distinto, e exatamente isso a tornava única. A capacidade dela de se encaixar era inacreditável. Ela conseguiria conversar naturalmente desde com o indigente até com o presidente. Ela parecia um eterno gesso fresco ou uma massinha infantil, capaz de ser moldada e re-moldada quantas vezes fosse preciso. Preferia ouvir a ser ouvida. Observar a ser observada. E era tão, mas tão comum. Ela não se fazia necessária na vida de ninguém, e me parecia que ninguém era necessário a ela. Ela era uma completa incógnita para mim. E isso me apaixonava cada segundo mais. Apesar de me incomodar nela essa coisa de super-humanismo. Nada parecia afetá-la. Podia chover, podia fazer sol. Podiam abraçá-la, podiam cuspir na cara dela. A postura era sempre mantida. Nada a tirava de seu eixo. Como pode? Uma respiração profunda erguia a cabeça dela. Sem calmantes, sem lenços, sem açúcar. Nunca pude vê-la chorar de raiva ou gritar de irritação. Nunca pude vê-la se apaixonar assumidamente ou se doar voluntariamente. Parecia estar escrito “equilíbrio” na testa dela. Rosto sereno, emoções interiorizadas. Uma vontade de descobri-la me dominava. Descobrir que segredos ela guardava em si, segredos esses que a tornava tão comum, tão normal, e por isso, não mais nem menos que por isso, tão única e fascinante. Fascinante. Essa é a palavra.


R.L.A. (meio verdade, meio mentira, meio-termo.)

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